8 de nov. de 2009

Cafona e maldito


Por Paula Febbe

Fui ao festival Maquinária que aconteceu ontem em São Paulo.

Na platéia, meninos de cabelos compridos, bermudas, preto e muitas tatuagens à mostra não deixavam negar que aquele era um evento de rock. Pela grande quantidade de camisetas com o nome da banda, era obvio também que a esmagadora maioria tinha ido ver a última atração da noite: Faith no More.

Se você olhar algum vídeo dos caras no começo da carreira, vai trombar com um lead singer de bermudas, tênis, camisetas coloridas e cabelos compridos. Já se assistir ao videoclipe de easy, vai encontrar o mesmo tipo de figurino, só que desta vez, Mike estará com os cabelos curtos.



Hoje em dia, praticamente vinte anos depois do inicio de sua carreira, Mike Patton sobe ao palco com uma bengala (e com um enorme guarda chuva no caso do show em São Paulo), terno vermelho (com uma flor na lapela), cinto branco e óculos escuros. O cabelo é cuidadosamente puxado para trás com um gel que não deixa o couro cabelo respirar por nenhum segundo. Praticamente um estereótipo de “amante latino” ou um mafioso italiano de muito mau gosto.

A banda começou o show com Reunited. Quem chegasse desavisado era bem capaz de achar que entrava em uma festa de formatura brega no final dos anos 70.

Acontece que todo este inicio de show era uma grande encenação. E o mais curioso: O publico sabia disso! Todos (OK! Quase todos) que estavam lá entendiam a ironia da banda e talvez tenham isso como um dos grandes motivos por ter desembolsado até quatrocentos e cinquenta reais no ingresso. O Faith no More é praticamente sinônimo de pegar musicas cafonas e transformá-las em algo muito interessante.

Quando chegou a hora de Epic, a verdadeira personalidade da banda já tinha aparecido há muito tempo e o sarcasmo havia ficado ainda mais exposto.

Com todo aquele cenário, minha maior contestação foi: O que faz com que alguns artistas sejam compreendidos e outros não? Mike Patton nunca chegou a publico ou fez uma coletiva de imprensa para explicar que suas roupas cafonas eram apenas uma ironia.


Mas enquanto Mike Pattons são compreendidos sem precisar abrir a boca, outros artistas reclamam cada vez mais do quanto são mal interpretados. Tudo o que dizem parece ser infinitamente distorcido por jornalistas e afins, sem dó nem piedade.

Talvez o histórico de Patton contribua para o entendimento do público. Inclusive, os trejeitos continuam os mesmos. Se você conseguir prestar bastante atenção, verá o mesmo menino de vinte e poucos anos preso no corpo daquele homem na casa dos quarenta. A diferença é que com vinte e poucos anos você pode não ser levado muito a serio, mas o tempo se encarrega de separar os músicos que tinham o rock apenas como uma fase dos que são realmente talentosos e levam a música para toda a vida. Tenha certeza de que Patton está na melhor categoria.

Pouquíssimas pessoas sabem da vida íntima do vocalista do Faith no More, mas muitos conhecem seus inúmeros projetos musicais.
O show foi ótimo e em nenhum momento deixou nada a desejar. Profissionalismo é a palavra chave!

A verdade é que expondo apenas o trabalho, tudo o que o artista faz é compreendido como arte, já que não o conhecemos fora dela. Se um artista busca seriedade, mesmo que na ironia, é bem provável que tenha que se resguardar para ser compreendido.

Parece que cada vez menos representantes do mainstream entendem isso, mas ser artista e ser celebridade exigem duas posturas completamente diferentes.

“You want it all but you can´t have it”. E o Faith no More já sabia disso há tanto tempo!

4 comentários:

Patrícia disse...

Que inveja me deu de vc! Faith no more........
Muito bom! E é isso... ser artista e ser celebridade eh bem diferente... o cara não precisa declarar nada, ele só precisa fazer e pra um bom entendedor meia palavra basta!

10 de novembro de 2009 às 00:08
jakared disse...

me planejei pra ir, mas acabou que as responsabilidades falaram mais alto, eh isso ai, vida longa ao Rocknrolla

10 de novembro de 2009 às 00:22
Macaco Pipi disse...

DEVE SER MASSA!!

10 de novembro de 2009 às 02:14
Daniel Silva disse...

Esse blog é muito bom! Tenho uma inveja boa de vocês!

Abraço

10 de novembro de 2009 às 09:21