23 de abr. de 2010

Entrevista: Mixhell

Quando um ex-baterista de uma banda de metal resolve se juntar com sua mulher pra fazer alguma coisa relacionada a música, é de se esperar alguma coisa ligeiramente diferente.

Pois então, a Mixhell foge completamente dos padrões que se esperavam de Iggor Cavalera e ele surpreende apresentando um projeto eletrônico que começou despretensiosamente, com sua mulher Laima Leyton, e tomou proporções mundiais.

Depois de mais de seis anos de estrada entre idas e vindas da Europa, o duo resolveu lançar seu primeiro álbum, que conta com 17 faixas que se alternam entre músicas autorais, remakes e remixes e carrega o peso do nome do projeto.

Eu conversei com os dois sobre como surgiu a ideia da Mixhell, sobre a resposta que eles esperam do público brasileiro, sobre o passado de Iggor, um pouco sobre a vida pessoal deles e, claro, sobre os projetos que estão sendo preparado pós lançamento do primeiro álbum.


A Laima não tinha o mesmo contato com a música que o Iggor, pelo menos não diretamente. Então como surgiu essa idéia de fazer esse projeto?

A nossa ideia era de fazer algo juntos. Não sabíamos o quê. A Laima trabalhava no Museu de Arte Moderna de SP e eu no Sepultura. Pensamos em organizar exposições juntos, em trampar com arte, mas também não tínhamos planos de deixar os nossos trabalhos anteriores. As coisas aconteceram organicamente. Fruto de nossas conversas sobre arte e música, o Mixhell acabou rolando. Tomou um tempo maior de nossas vidas e se tornou o projeto principal.

O Iggor carrega muito as influências dos anos em que ele participou do Sepultura para o projeto?

Sim. Além da música eletrônica estar centrada nos "beats", eu sempre busquei coisas diferentes. Nos tempos do Sepultura, já buscava referências do hip hop, de batidas diferentes como a dos índios Xavantes, entre outras. Nunca fui preso a um estilo musical único.

O fato de vocês dois serem casados não atrapalha na hora de trabalhar juntos? A vida profissional não invade a pessoal, de vez em quando?


Na real, acho que quando voce trabalha em algo que ama, como arte e música, não há muita definição entre trabalho e vida pessoal, eles se misturam constantemente. Por isso acho que na real, os dois trabalharem juntos é mais fácil, mais prazeroso.


No Mixhell vocês juntam a música eletrônica com o hard rock, são dois públicos distintos que, normalmente, é formado por pessoas que não frequentam as mesmas festas. Como vocês fazem pra agradar essa platéia distinta?

Na real, muitas das pessoas com quem trabalhamos, colaboramos e tocamos juntos são DJs, produtores e bandas que tem um background em rock, exemplos Soulwax, LCD Soundsystem e Simian Mobile Disco para citar alguns. Então rola uma cena onde as referências se cruzam, os elementos de rock, música eletrônica, pop e outros sao frequentemente misturados. Na verdade não tentamos agradar ninguém, mas tocar músicas que gostamos.

Vocês estão na estrada faz seis anos e só agora lançaram o primeiro álbum, sendo que o público do exterior conhece o trabalho da MixHell muito melhor que o brasileiro. O que vocês esperam da resposta do público daqui?

Esse álbum não é exatamente um LP autoral, é um Mix CD com referências de como nosso set funciona. A ideia de fazê-lo foi justamente a de se aproximar do público brasileiro, tanto é que ele só foi lançado no Brasil - o que tem causado um alvoroço no exterior, pois muitas pessoas querem comprá-lo -. Não temos pressa para lançar álbuns na cena eletrônica, singles e EPs funcionam muito bem e é isso que temos feito até agora. No entanto, só temos feito isso fora do Brasil. Esperamos que com este Mix CD, as pessoas conheçam melhor o trabalho do Mixhell.

Na seleção do repertório para o primeiro CD vocês juntam nomes como Maluca e Diplo, Crookers e N.A.S.A e pouquíssimas faixas autorais. Como rolou essa escolha para as remixagens?

Como disse antes esse nao é um album autoral e sim um Mix CD, no entanto cada uma das musicas tem uma relação importante conosco. Ou são músicas inéditas que amigos cederam, ou remixes que fizemos de alguns, ou remixes que fizeram para nós. A escolha rolou para que tivéssemos a presença de selos e músicas que fazem parte de nossa história com o Mixhell.

A família inteira está envolvida com o MixHell, até os teus filhos. É mais fácil trabalhar com quem tu conheces desde que nasceu?


(Risos) Na verdade eles gostam mais de outros sons. Houve uma fase que era só Beatles pra eles, agora cada um tem a sua escolha, desde a mais velha que gosta só de black metal até os que sao fãs do Mixhell e de música eletrônica. Todos estão envolvidos com música e tocam algum instrumento, mas totalmente por interesses próprios, não os forçamos a gostarem de nada.

E o Cavalera Conspiracy, como vai ficar? Enquanto tu divulgas esse projeto.

O Cavalera Conspiracy é um projeto que caminha junto, em paralelo. Na real, meu irmão tem o Soulfly e nós temos o Mixhell, e quando queremos trabalhar juntos temos o Cavalera Conspiracy. É uma forma de sempre trabalhar com as pessoas mais importantes para mim. No final da tour de Abril do Mixhell vamos aos EUA encontrar com o Max para algumas gravações do CC.

Vocês são amigos de grandes nomes da música eletrônica, como 2manydjs e o Soulwax. Como é tocar com eles? Já que para a maioria dos DJs isso é um sonho.

É uma outra familia que se construiu. Somos muito amigos há bastante tempo e há uma admiracao mútua pelo trabalho um do outro, eles ja conheciam o trabalho do Iggor antes do Mixhell. Tocar com eles é sempre muito bom pois há uma troca muito grande, um convívio que vai além de dividir o palco, isso é o mais importante.

O fato de o Iggor já ser um nome conhecido na cena metaleira facilitou ou dificultou a entrada da MixHell no cenário eletrônico?


Os dois, acho que na real mais ajudou do que atrapalhou. Muitas pessoas conheciam meu trabalho como músico em geral e adoraram o fato de "transbordarmos" as fronteiras dos generos musicais. Alguns DJs torceram o nariz e isso foi um pouco chato, mas já passou, hoje vemos metaleiros dancando na pista e é muito legal. Os radicais ficam em casa, reclamando atrás de um computador

Como foi a primeira apresentação de vocês, como rolou?

Juntos mesmo oficialmente foi no Clube Milo, quando nosso amigo, o Milo, nos convidou para fazer um set de dia dos namorados, back to back. Foi muito legal, cada um pôs o que gostava de ouvir e a pista reagia incrivelmente. Foi aí que percebemos que queríamos fazer isso mesmo.

Para terminar, quais são os planos para os próximos anos?

Ainda em 2010 queremos lancar um disco autoral, ja entramos em estúdio e temos varias musicas em andamento. Tambem tocaremos nos principais festivais de verão europeus como Bestival, Glastonbury, Creamfields e Rock in Rio. Queremos muito tocar no Brasil também, o máximo que der.

1 comentários:

Jugs disse...

Inovar sempre é muito bom, ainda mais quando fica com qualidade!
Olha, eu não gosto de música eletrônica.. (só quando eu bebo xD) Mas eles estão de parabéns! Achei muito muitoooo bom mesmo o som!

Ta vendo? isso sim tinha que fazer sucesso por aqui! E nao Pepê e Nenem! ¬¬

23 de abril de 2010 às 10:48