29 de jul. de 2009

A caixa do elefante

"Os elefantes, ao longo de sua vida, percorrem enormes distâncias, costumam viver em grupo e possuem excelente memória. Fazem parte de um imaginário exótico no ocidente e são venerados por diversas culturas. Para os hindus, por exemplo, Ganesh é o deus do sucesso e superação de obstáculos, mas é também associado com a visão, aprendizado, prudência e força."

É assim que se apresenta a companhia A Caixa do Elefante Teatro de Bonecos, cujo espetáculo assisti nesta quarta, dia 29, graças ao Festinverno POA, o nome? A Moça Tecelã, adaptado da obra de Marina Colasanti e dirigido por Paulo Balardim com dramatização de Carolina Garcia, Alice Ribeiro e Rita Spier.
"Acordava ainda no escuro, como se ouvisse o sol chegando atrás das beiradas da noite. E logo sentava-se ao tear.
Linha clara, para começar o dia. Delicado traço cor da luz, que ela ia passando entre os fios estendidos, enquanto lá fora a claridade da manhã desenhava o horizonte.

Depois lãs mais vivas, quentes lãs iam tecendo hora a hora, em longo tapete que nunca acabava."

A peça me encantou, com a direção musical do Nico Nicolaiewsky(o que me fez assistir a peça) e uma jogada magnífica de luz e sombras, não é só uma representação ótima ou um lindo espetáculo de atuação. O início dele já vem meio mórbido, com as parcas cantarolando uma música infantil ligeiramente conhecida: "se essa rua, se essa rua fosse minha, eu mandava, eu mandava ladrilhar..." e assim começa tudo.
Se era forte demais o sol, e no jardim pendiam as pétalas, a moça colocava na lançadeira grossos fios cinzentos do algodão mais felpudo. Em breve, na penumbra trazida pelas nuvens, escolhia um fio de prata, que em pontos longos rebordava sobre o tecido. Leve, a chuva vinha cumprimentá-la à janela.
Mas se durante muitos dias o vento e o frio brigavam com as folhas e espantavam os pássaros, bastava a moça tecer com seus belos fios dourados, para que o sol voltasse a acalmar a natureza.

As parcas contam a história em uníssono, numa harmonia que só muitos ensaios poderiam trazer, antes de chegar ao fim, elas montam o palco e saem de cena, para trazer a moça. Com belissímas cenas que aos olhos do público foi mágica pura, as cenas passam a ter vida, sem diálogo em momento algum, a representação é puramente levada com os elementos sonoros e também a iluminação. Acessórios básicos no teatro. A moça tecelã fazia seus movimentos parecerem um tipo de dança, onde nada mais importava, a não ser tecer.
Assim, jogando a lançadeira de um lado para outro e batendo os grandes pentes do tear para frente e para trás, a moça passava os seus dias.
Nada lhe faltava. Na hora da fome tecia um lindo peixe, com cuidado de escamas. E eis que o peixe estava na mesa, pronto para ser comido. Se sede vinha, suave era a lã cor de leite que entremeava o tapete. E à noite, depois de lançar seu fio de escuridão, dormia tranqüila.
Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer.
A música, os gestos, as luzes, tudo estava em perfeita harmonia, em perfeita simetria, com uma direção maravilhosa e uma atuação esplêndida, mas ainda faltava algo por vir. Seria o ápice daquele espetáculo, já tinha visto mágica, já tinha visto objetos surgirem de panos, já tinha visto sombras que ilustravam dramas. Mas ainda faltava algo.
Mas tecendo e tecendo, ela própria trouxe o tempo em que se sentiu sozinha, e pela primeira vez pensou em como seria bom ter um marido ao lado.
Não esperou o dia seguinte. Com capricho de quem tenta uma coisa nunca conhecida, começou a entremear no tapete as lãs e as cores que lhe dariam companhia. E aos poucos seu desejo foi aparecendo, chapéu emplumado, rosto barbado, corpo aprumado, sapato engraxado.
O abandono e a solidão a fizeram tear um marido, mas como? Se a peça é com apenas três mulheres? Lembrem-se que o nome da companhia é A Caixa do Elefante Teatro de Bonecos, eis que surge o boneco, surge do nada, nas mãos da moça, aos olhos do público, para impressionar mesmo. Mas até aqui já contei demais, a peça ainda não foi finalizada. E eu vou assistir ela, em maio quando tiver reformulada.

São 40 minutos de um show de luzes e efeitos que me deixa sem palavras, que deixou o público estatizado e de boca aberta. Essa é a primeira peça que a companhia faz para o público adulto e, coincidentemente, em 2009 a Caixa do Elefante completa 18 anos e atinge sua maioridade. Para mim esse foi o debut de gala da companhia, espero que eles tragam mais peças que, saídas de um conto infantil, ilustram fortemente o cotidiano de muitas pessoas que precisam enfrentar e vencer a solidão ou outros obstáculos, diariamente. E ainda possam ser trazidas para um público adulto.

Se quiser assistir, a peça estará até sexta feira na Usina do Gasometro, no teatro Elis Regina, as 15h e as 19h. E precisa de agendamento.

Contato com a produção:
Cel: (51) 7815.9544
Nextel: 92*13151
e-mail: cgarciamarques@gmail.com

O DeGaragem está entrando num espaço cultural mais amplo e expandindo seus horizontes, então fiquem preparados, pois não são apenas bandas que são artistas. E queremos mostrar todos aqueles artistas que são bons e pouco reconhecidos. Desde música, teatro, dança, exposição, pintura... o que envolver cultura, estaremos lá.

9 comentários:

Vini e Carol disse...

Pô, parece ser muito interessante.
Legal ter uma peça que toque nesse assunto.
Um pouco mais de cultura pro nosso país.
Pena que é longe o lugar rs.
Abraços.

29 de julho de 2009 às 22:55
Frank disse...

Parece bacana essa peça... pena q eu moro looooonge

29 de julho de 2009 às 22:59
Ana Yasha disse...

Tenho um grande apreço por elefantes, eles são seres geniais para mim. Por isso, quando vi sobre o que era o texto, corri para cá.
Ouvi dizer que os elefantes são altamente sociáveis, vivem em grupo e cuidam uns dos outros até o fim, e que eles só se isolam e ficam sozinhos pra morrer. Que quando estão tristes eles preferem ficar sozinhos. Achei tudo isso muito lindo.

Quanto aos trechos da peça são belíssimos, iria com certeza se tivesse uma oportunidade.

29 de julho de 2009 às 23:00
Wander Veroni Maia disse...

Gosto de assistir peças de teatro assim, que provocam uma discussão em nós mesmo...essa em si parece muito bacana!

Abraço

30 de julho de 2009 às 12:10
Andreia disse...

Elefantes são seres íncriveis... como voc~e mesma cita no ínicio do POST, possuem incrível memória e sempre andam em grupo. Pena como o homem não respeita um animal maravilhoso como é o elefante.
A peça parece ser impressionante, pena que, como os outros também citaram, fica looonge.
Forte abraço.

30 de julho de 2009 às 12:19
Neuro-Musical disse...

Nunca ouvi falar nessa companhia, mas os trechos citados no post me deixaram curioso. Pelo que li, a história parece envolver o espectador do inicio ao fim! Muito boa a dica!

http://cerebro-musical.blogspot.com

30 de julho de 2009 às 12:24
Erich Pontoldio disse...

Parece realmente ser uma ótima peça ... valeu a dica

30 de julho de 2009 às 12:43
Anônimo disse...

Gostei do blog, acho que o texto poderia ser mais claro. Neste tom a leitura está um pouco difícl.
Valeu e até mais.

30 de julho de 2009 às 12:44
Unknown disse...

poW ki Show Seu blog ...

Parabéns


gostei Muito...

puroqi.blogspot.com/

30 de julho de 2009 às 23:26