Para manter a mobilidade, com Móveis Coloniais de Acaju

Para manter a mobilidade, com Móveis Coloniais de Acaju

Se são coloniais eu não sei, muito menos de acaju, sei que são nove caras brasilienses, André Gonzales, BC, Beto Mejia, Eduardo Borém, Esdras Nogueira, Fabio Pedroza, Paulo Rogério, Renato Rojas e Xande Bursztyn, e que são extremamente móveis.

Sim, mobilidade é uma palavra completamente presente no show deles, do início ao fim, até o ser mais parado é contagiado com o espetáculo quase teatral dessa banda, que é considerada por muitos como "a mais importante do meio independente do Brasil".

A banda tem um estilo diferenciado, toca uma espécie de Ska, por usar instrumentos metálicos como saxofones barítono e tenor, trombone, além de flauta transversal e gaita cromática, unindo ao bom e velho trio de baixo, bateria e guitarra, com um teclado pra fazer a diferença. Lançaram, faz pouco tempo, o álbum "C_mpl_te" e é deste disco que eles estão fazendo divulgação.

Antes mesmo de entrar no Opinião, já escutei de algumas pessoas "o show no Beco, ano passado, prejudicou um pouco pelo fato do palco ser apertado, mas eles invadiram a plateia e fizeram até 'mosh'", não imaginei que tudo isso me esperasse na noite em que decidi ver e conhecer mais os Móveis.

Não sei exatamente o set list, pois não me foi passado, como conhecia pouco o nome das músicas, vou ficar devendo, mas vale dizer o quanto esses caras aprontaram no palco, foi uma experiência que os melhores teatros que eu assisti, não me deram. Em uma época em que o mercado sonoro profetiza que a grande renda do artista vai vir dos shows, o Móveis literalmente reinventa a visão de "fazer show".

Tem total comando da plateia do início ao fim, tanto que em um momento do show eles chegam a abrir uma rodinha na pista e descem para cantar e dançar junto, fazem o conhecido mosh, ou stage dive, pulam com os instrumentos metalicos juntos, descem do palco e ficam entre a plateia, além de incentivar a participação do público fortemente, eles sabem que sem os fãs, não estariam ali e fazem com que esses participem muito do show.

Bom, fui ao show com o som de um Los Hermanos genérico na cabeça, me surpreendi pro lado bom, Móveis Coloniais de Acaju tem um "Q" de Los Hermanos, mas eles passam tão bem por outros ritmos que fica difícil definir, essa noite escutei eles tocarem um samba, um chorinho, uma MPB, rock dos mais fortes, um pop meio black - que me lembrou Gym Class Heroes - e até mesmo baladinhas mais românticas e covers, como o de Glory Box, do Portishead.

Definitivamente é uma banda diferenciada e que tu até pode não se apaixonar pelas músicas de primeira, mas depois de assistir a um show como esse, pode ter certeza que não vai querer outra coisa, eles tem uma presença de palco incrível e uma leveza de se admirar, fora que tem momentos que o André Gonzales comanda a plateia como o Cid, o preguiça do Era do Gelo, controla seus suditos após ser nomeado "Rei do Fogo", na segunda parte da animação, para quem lembra.

Quem não conhece, nunca ouviu falar ou nem tem vontade de conhecer, espero ter mudado o seu ponto de vista. Quando se fala hoje em dia em artistas "venderem shows", o Móveis Coloniais de Acaju faz escola.